Coisas interessantes

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Um pulo de fé.

O jovem fechava seu notebook, acabara de postar uma fotografia com o namorado em uma rede social. Há cinco minutos tinha ido ao ar, e já registrava trinta e dois "likes". Pagava a conta de seu pedaço de torta e do café ruim e pequeno pensando nisso, e saía do lugar no qual dera check-in no Foursquare. Caminhava lentamente pela rua, mochila nas costas, pensando. Pensando em como queria ser especial.

Pois todos eram tão especiais...

E ele não sabia o que estava fazendo ali.

Gostaria de ter um maior controle sobre a sua vida, gostaria de ser perfeito como as pessoas que ele via  sorrindo na internet e na rua; embora na rua elas não parecessem tão... Especiais. O jovem sorria para as fotos, mas cada clique daquele parecia arrancar um pedaço de si. Cada flash parecia roubar um pedaço de sua alma, e ele sentia sua vida cada vez mais vazia. É claro que ninguém desconfiava disso; ele sempre sorria, como a maioria das pessoas à sua volta. Sempre ouvia comentários sobre pessoas invejando sua vida, querendo ser como ele; bonito, inteligente, com um namorado incrível, uma família legal e um futuro brilhante.

Ele, contudo, não se sentia bonito. Achava a escola fácil demais. Apanhava do namorado e sua família só mantinha uma aparência de aceitar sua sexualidade, agredindo-o dentro de casa. Não ousava, porém, quebrar essa impressão de levar uma vida feliz, não queria ninguém sentindo pena dele. Então, ao chegar em seu prédio, pensou que não olhava para o céu há algum tempo. Subiu direto para o terraço, deitando-se no mirante de barriga pra cima.

As estrelas eram poucas. Ele não pertencia àquele lugar, de poucas estrelas, muitos aviões e boas almas em falta. Não odiava o lugar, não. Apenas... Não pertencia àquilo. Não era sua casa, nunca fora. Assim,  começou a considerar uma viagem. Seria tão bom viajar! Ver outras coisas, ver gente nova, tentar encontrar um lugar em que fosse aceito. Seu coração se enchia de esperança à luz desses pensamentos.

Ele sorria enquanto planejava os detalhes da sua viagem. Nem arrumaria as malas, apenas viajaria de carona. Desceria onde fosse jogado, e de lá pegaria mais caronas para ver onde chegaria. Seguindo em frente, sempre seguindo em frente, sem olhar para trás. Queria que sua família o visse partir... Será que chorariam? Não sabia. Duvidava, na realidade.

Estava decidido: acertaria suas contas e viajaria para nunca mais voltar.

Assim o fez: cinco dias depois, com um bilhete para os pais e uma mensagem via inbox para o namorado, ele voou para sua nova vida, pousando rapidamente em seu destino incerto.

Mas estava errado em uma coisa.

Seus pais choraram com sinceridade em seu funeral.

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