Coisas interessantes

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Amor de Irmão

- Isso é só uma rebelião. Chame os guardas e acabem com isso!

Rin, não é apenas uma rebelião...

A história que lhe contarei não tem um final feliz. De fato, vi poucas histórias com finais felizes do lugar de onde vim. Meu nome é Len, e sou de um reino há muito destruído. A última rainha que o governou era muito jovem quando assumiu o trono: tinha apenas quinze anos. Ela cresceu lidando com as pressões do reino e foi endurecendo com o passar dos anos. Rin tornou-se uma tirana. Era uma garota muito caprichosa, e seu encanto era tal que ninguém próximo poderia negar-lhe o que pedisse. O povo tinha fome, e Rin não ouvia seus gritos, enclausurada em seu palácio. O povo estava doente, e Rin não estendia sua mão. Ela era cruel.

Mas era minha irmã, e por ela eu também me tornaria cruel.

Pensa-se que laços entre irmãos são quase sempre nós cegos; incômodos, em uma luta constante e sem sucesso de se desfazer. O nosso caso estava mais para um laço fortemente atado. Enquanto éramos crianças eu não entendia muito bem o que isso significava... Mas quando a rebelião teve início percebi que meu destino estava atado ao dela. Nunca tive um grande problema com isso, e Rin parecia não se incomodar também. Nós éramos a mesma coisa. Uma coisa só, separada em dois corpos. Isso é, sinceramente, como eu encarei a situação até o fim.

E tudo começou com a inveja de Rin. Havia uma princesa no país vizinho, a criatura mais bela em que já tive o privilégio de pousar meus olhos. Seu nome era Miku, e ela era noiva do herdeiro do país do Norte. Apesar desse fato, me apaixonei por ela assim que a vi pela primeira vez. Encantadora, e é claro, inalcançável para um mero servo como eu. O meu título era de Duque, mas o papel que eu sempre desempenhei foi o de servo pessoal de Rin.

Certa noite, Rin veio a mim num estado de ira que eu nunca havia visto. Ela chorava de ódio em meus braços, deixando cair ao chão o convite do casamento entre Kaito e Miku. Eu mesmo me encontrei desolado com a notícia, mas não da mesma forma que Rin. E ela me pediu o impossível.

- MATE-A, LEN.

Não consegui acreditar na seriedade das palavras de minha irmã naquele momento. Foi preciso olhar em seus olhos para entender que aquilo era uma ordem, não um pedido. Devo dizer que, ao longo de minha breve existência, nunca pude dizer uma palavra de negação à ela; este caso não foi uma exceção. E Rin era a única pessoa no mundo pela qual eu assassinaria minha doce e proibida Miku.

Assim parti, enviando à minha amada uma mensagem falsa, para que ela fosse se encontrar com Kaito às escondidas nos jardins de seu palácio. Quando ela chegou, me passei por um servo do príncipe, e disse que a guiaria até ele. Miku era tão inocente que veio comigo sem questionar. Deixei que se sentisse segura e que se distraísse, acontecendo tudo muito rapidamente: puxei-a pelas mãos, e quando ela se lançou aos meus braços uma lâmina atravessou seu ventre. Ela me olhava com tristeza, mas não uma tristeza arrasada... Parecia que, de alguma forma, tinha pena de minha alma. Miku acariciou  meu rosto enquanto ainda estava consciente, e com um breve beijo, senti um sopro de vida deixar seu corpo; seu lábios gelando mais e mais ao toque dos meus.

Eu não consegui me perdoar. Mas Rin... Eu a perdoei antes mesmo de ela me pedir aquilo. Antes mesmo de nascermos... Ela já tinha meu eterno perdão.

Após esse evento a rebelião se transformou em revolução. Os países vizinhos descobriram que a sentença de morte da princesa Miku foi assinada por minha irmã, e logo vieram atrás dela. O castelo foi sitiado, e assim que tomei as medidas de segurança necessárias corri para os aposentos de minha irmã. A solidão penteava seus cabelos louros com atenção, enquanto ela ria para o espelho.

- Camponeses! Camponeses e guerreiros e usurpadores, todos contra o meu castelo! - ela dizia, rindo... Ou estaria chorando?

- Rin, você precisa fugir. Posso ganhar algum tempo para que consiga escapar.

- Fugir? - ela perguntou, enxergando a seriedade da situação. - Para onde?

- Para outro país. Algum bem longe daqui.

- Isso é só uma rebelião. Chame os guardas e acabem com isso!

Rin, não é apenas uma rebelião... Três países querem a sua cabeça.

- Len...

- Eu tomarei o seu lugar. - afirmei. - Essa já era minha intenção há algum tempo, Rin. Eu sabia que viriam atrás de você, então tomei todas as providências para que fuja com segurança. Eu vestirei as suas roupas e tomarei seu lugar na guilhotina. Ninguém poderá notar a diferença... Somos gêmeos, afinal.

Tive de observar calado as lágrimas e os protestos de Rin enquanto os meus guardas a carregavam para sua fuga. Fiz o que prometi, e me vi em frente ao povo faminto e doente que gritava pela cabeça da rainha tirana. Ao colocar meu pescoço naquela guilhotina, pude jurar que vi Rin em algum lugar... Vestindo uma capa e chorando antecipadamente minha morte. Respirei aliviado. Era o máximo que eu podia fazer por ela. A única pessoa pela qual eu dei, sem pestanejar, minha vida.

E assim, com um sorriso, disse adeus a essa vida.

***

DISCLAIMER: Esse texto foi baseado nas músicas da série Story of Evil, criada por Mothy. A premissa é a mesma de um outro texto meu, o Alfaiataria. Então o disclaimer é basicamente o mesmo e eu tô com preguicinha :33

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Deadline.

Em algum canto deste planeta, às onze horas da noite, havia um escritor. Ele olhava para a neve que caía sem pressa através da janela. Pensou ouvir alguém bater à sua porta, mas era coisa da sua cabeça: "O prazo", pensou, melancólico. "Cinco textos em dois dias... Como fui deixar isso acontecer?", ele remoía.  Estava há cinco horas sentado em frente à sua máquina de escrever, e conseguiu parir apenas duas linhas.

Precisava sair dali.

Ele se levantou, puxando um cobertor de cima da cama - desarrumada há semanas - e aninhando-se nele. Vagarosamente foi até a cozinha e fez um café forte, rindo com a ironia em sua moleza. Terminou seu café com lentidão, e serviu-se de outra caneca antes de voltar à máquina. Há quanto tempo não dormia? Não se lembrava. Ao passar pelo corredor que o levaria novamente ao quarto, ele parou.

Olhou vagarosamente para a direita.
Havia uma moldura, e uma menina dentro dela.

Em outro canto do planeta, um canto muito distante do canto do qual eu falava, havia uma artista. Seu ateliê, outrora branco, estava coberto de tinta vermelha. Ela se encontrava deitada num chão coberto de jornais sujos, e não havia um pedaço de seu rosto que não estivesse sujo das mais variadas cores. Contudo suas mãos, apesar de também estarem sujas, apresentavam apenas o vermelho das paredes. O prazo a venceu, e o papel que a informava de sua demissão estava ao chão, respingado de... Sangue? Ela olhava para o teto, mas não enxergava mais nada. Junto com a tinta em suas mãos havia o sangue saindo de seus pulsos abertos, ensopando mais e mais o jornal estendido embaixo do corpo inerte da mulher.

Ela expirou junto com o prazo.
O escritor piscou e se viu dentro da moldura do espelho: seus olhos estavam arregalados. Não sabia o que tinha acontecido ali... Mas sem se importar se aquilo foi fruto de sua exaustão ou se foi uma visão legítima, ele correu para a máquina de escrever e arrancou a folha velha, substituindo-a por uma nova.

Começou então a escrever.

"(Texto 01)
Prazo Expirado

'Essa é a história de como eu morri [...]'"