Coisas interessantes

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Deadline.

Em algum canto deste planeta, às onze horas da noite, havia um escritor. Ele olhava para a neve que caía sem pressa através da janela. Pensou ouvir alguém bater à sua porta, mas era coisa da sua cabeça: "O prazo", pensou, melancólico. "Cinco textos em dois dias... Como fui deixar isso acontecer?", ele remoía.  Estava há cinco horas sentado em frente à sua máquina de escrever, e conseguiu parir apenas duas linhas.

Precisava sair dali.

Ele se levantou, puxando um cobertor de cima da cama - desarrumada há semanas - e aninhando-se nele. Vagarosamente foi até a cozinha e fez um café forte, rindo com a ironia em sua moleza. Terminou seu café com lentidão, e serviu-se de outra caneca antes de voltar à máquina. Há quanto tempo não dormia? Não se lembrava. Ao passar pelo corredor que o levaria novamente ao quarto, ele parou.

Olhou vagarosamente para a direita.
Havia uma moldura, e uma menina dentro dela.

Em outro canto do planeta, um canto muito distante do canto do qual eu falava, havia uma artista. Seu ateliê, outrora branco, estava coberto de tinta vermelha. Ela se encontrava deitada num chão coberto de jornais sujos, e não havia um pedaço de seu rosto que não estivesse sujo das mais variadas cores. Contudo suas mãos, apesar de também estarem sujas, apresentavam apenas o vermelho das paredes. O prazo a venceu, e o papel que a informava de sua demissão estava ao chão, respingado de... Sangue? Ela olhava para o teto, mas não enxergava mais nada. Junto com a tinta em suas mãos havia o sangue saindo de seus pulsos abertos, ensopando mais e mais o jornal estendido embaixo do corpo inerte da mulher.

Ela expirou junto com o prazo.
O escritor piscou e se viu dentro da moldura do espelho: seus olhos estavam arregalados. Não sabia o que tinha acontecido ali... Mas sem se importar se aquilo foi fruto de sua exaustão ou se foi uma visão legítima, ele correu para a máquina de escrever e arrancou a folha velha, substituindo-a por uma nova.

Começou então a escrever.

"(Texto 01)
Prazo Expirado

'Essa é a história de como eu morri [...]'"

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