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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Blood Issues.




Trata-se afinal do sangue. Esqueça a época, a evolução mundial e os avanços em magia; o sangue sempre terá o seu valor. O que sempre moveu o mundo foi o elitismo, o berço. Aqueles que têm por nascimento o direito de gorvernar são os que devem fazê-lo. A grande massa nasceu para ser comandada por alguém melhor instruído, criado e ensinado desde a mais tenra idade para assumir um dia o que lhe foi predestinado: o poder. E quem melhor para ter o poder em mãos do que um membro de uma raça superior? Trouxas devem se submeter aos bruxos. Opositores devem queimar em fogo selvagem, e seus gritos devem servir de exemplo para o povo dominado. O líder, é claro, deve ter não apenas magia correndo em suas veias: mas sim uma magia limpa, pura. A linhagem deve ser preservada. Deve ser filho de um casamento sacramentado, arranjado entre famílias poderosas que, naturalmente, devem se unir.

Ou não. Mas foi isso o que me ensinaram.

Descobri, muito recentemente, que ter sangue puro e ser o fruto de uma união poderosa é uma maldição. O sangue me traiu. O mesmo sangue que me dá poder... Me roubou a inocência. Eu senti, pela primeira vez em minha vida, o que é o calor do ódio dentro do peito; dissolvendo lentamente tudo de bom que um dia houve no coração - e por que não na mente? - de alguém. Senti minha sanidade se esvaíndo quando ouvi, da boca de um Hedberg, que... Surpresa! Eu não sou uma Crawford. Ouvi - e fui a única a ouvir - minha existência ser invalidada. O Hedberg, que ironicamente era meu mentor de Oclumência e um traidor imundo, me contou que Chloe Crawford não existia.

Eu nunca fui uma Crawford. Meu sobrenome de direito era... Hedberg.

O que significa que Chloe Hedberg anula a pobre e inocente Chloe Crawford. E ela não é nada além de uma mera bastarda.

Não que eu já não nutrisse um desafeto por Aldrick Hedberg. Há três anos, quando o flagrei com minha amada progenitora - não que eles saibam disso - em condições nada respeitáveis, eu o odiei. Ou pelo menos pensei que odiei a ambos. Eu não sabia realmente o que era odiar alguém; hoje digo que apenas senti raiva. Afinal eu era a menininha do papai. Ver minha mãe deitada com outra pessoa era... Inaceitável. Imperdoável. O ódio, o verdadeiro sentimento de ódio, eu apenas senti quando descobri que eu era nada menos do que o fruto daquela sujeira, daquela comunhão maldita. Essa granada sem um pino foi colocada em minhas mãos, e fui despachada para Hogwarts pela primeira vez segurando-a.

Alguém um dia me disse que guardar rancor apenas faz mal ao baú em que ele é colocado. Uma metáfora boba para eu entender que rancor apenas apodreceria o coração de quem o guardasse. Os anos se passaram e a cada dia, a cada hora passada, eu discordava mais dessa afirmação. A cada lição na Escola de Magia eu sentia uma arma a mais sendo colocada em minha mão. A cada treino de Legilimência ou Oclumência eu assistia ao crescimento de minhas habilidades. O destino que aguardava Iana Crawford e Aldrick Hedberg seria amargo; e estava, para o meu contentamento, em minhas mãos.

O rancor me fez renascer. O sangue me deu uma razão nova para tocar minha vida. Fui presenteada - e, novamente, amaldiçoada - com duas faces. Crawford? Hedberg? Sou ambos, e sou nenhum. Desde aquele primeiro de setembro, no qual fui enviada para longe de minha família com uma bomba em mãos, fui movida pelo rancor. Um motivo para que eu continuasse viva foi estabelecido: a vingança. A vida de um bastardo é cercada pelo desejo de autodestruição. E a culpa dessa terrível vontade de não existir... É dividida entre aqueles que me trouxeram a este mundo.

Minha mãe costuma me dizer que eu sou perfeita.

Eu concordo. Sou perfeita. Exatamente como ela e meu pai serão, quando eu os destruir com minhas próprias mãos.

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